19 de jun. de 2009

Conto: Virgínia - Completo

Virgínia (por Ro Bravastti)




Era assim Virgínia, uma linda jovem em plena adolescência, que refletia suas quinze primaveras de bem com a vida, esbanjando beleza e formosura. No entanto, não sabia ainda lidar com algumas situações. A timidez comandava as ações do seu corpo, apenas um burburinho, ou simplesmente uma pergunta deixavam a frágil jovem ruborizada e suas reações eram imediatas e desastrosas. Quantas vezes disparavam seus passos fugindo das situações que a deixava embaraçada.

Seus pais que viviam voltados aos cuidados com a filha, não demoraram muito para reparar as exageradas atitudes da moça, e juntos decidiram auxiliá-la. Encontraram uma reconhecida terapeuta, que atua especialmente, com jovens. A jovem Virgínia, como todo jovem, foi resistente de início, mas rendeu-se aos apelos de seus pais.
Passaram-se dois meses, e conversando com seus pais, a terapeuta sugeriu aulas de dança e expressão corporal para que assim a linda moça pudesse se soltar um pouco, e curtir a doce idade.

Logo em seguida lá estava a moça por sua livre escolha, assistindo a primeira aula de dança de salão. Ficou encantada com seus professores, e não esperava ver um casal tão novo dando aulas. João e Fátima quando dançavam, eram maravilhosos. Ele era lindo, corpo atlético, bronzeado de sol. Fátima também era linda, parecia uma miss, chamava atenção de Virgínia, era um pouco mais clara que João, seus cabelos pretos encaracolados contrastavam com uma fita azul clara que percorria seus cachos. Seu corpo de belas curvas vestia um transparente vestido esvoaçante de tom azul claro, que deixava ver um collant preto de suplex cobrindo certos contornos.

Não demorou muito, e em poucas aulas, Virgínia já se destacava, dançava com graça e ritmo. Fátima admirava muito esta aluna que dançava com leveza, e sempre que podia entre uma música e outra, fazia par com a moça.

Numa determinada noite, em sua casa, Virgínia estava se preparando para dormir, mas parou em frente do seu micro e colocou um CD de música. O ambiente ficou tomado pelo volume alto do som, e a linda moça começou a dançar de olhos fechados. Imaginava uma linda festa, um lindo salão, e bem na sua frente como seu par Luiz.

Luiz era seu amigo de escola. Um jovem bem popular, apesar de falar esquisito e não ligar muito para o português, ele se destacava entre os outros rapazes. Sempre arrumava um tempo para conversar com a linda e tímida jovem. E ela ficava hipnotizada ao olhar nos olhos do rapaz, respondendo em monossílabos.

Então Virgínia estava sozinha no seu quarto, dançando e imaginando seu pequeno romance com Luiz. Ficou assim algum tempo. Seus pensamentos perdidos no tempo e espaço. Pensou na professora de dança, em como era bonita. Desejaria ser também tão bela. Visualizou-se um pouco mais velha, dançando nua com seu par ao sabor de cenas picantes e ao mesmo tempo ingênuas, pois ainda mantinha o néctar da virgindade. Percebeu então que este par não parecia ser bem quem era.

Quando se deu conta seus pensamentos trouxeram a imagem de sua atraente professora de dança. Bocas, braços, pernas se confundiam na sua pura imaginação e quando se deu conta já estava molhada, atirada na cama. Sua respiração era forte e acelerada. De repente, abriu os olhos e deu um breve gemido.

Na manhã seguinte, durante o café da manhã, seus pensamentos estavam em pleno conflito. Não sabia o que estava sentindo. Perguntava-se internamente sobre o que estaria ocorrendo na sua mente. Mas quanto mais questões surgiam, mais fixo ficava seu pensamento em Fátima.

Passaram-se mais alguns dias e o quadro de fixação pela professora foi aumentando, que passou até a sonhar com ela todas as noites. Quando acordava pensava: Ainda bem que só tenho uma aula por semana, imagine se fosse todo dia, mas amanhã será o dia, quem sabe apago esta fantasia da minha mente, mas só de pensar meu coração acelera.
Na escola, ela passou a grudar no seu amigo Luiz. O rapaz percebeu a mudança de comportamento, e ficou mais atento à moça. No retorno da escola, os dois sempre voltavam juntos. Só que, desta vez, Virgínia conversava com Luiz de uma forma mais sensual, havia troca de olhares. Chegava até a segurar em suas mãos, acariciava o braço do rapaz, que freqüentava todos os dias a musculação da Academia próximo de sua casa. Puxou-o pelas mãos ao atravessar a rua em direção a uma sorveteria. Ficaram alguns minutos conversando sentados diante uma mesinha redonda, saboreando um delicioso sorvete. Ela estava animada conversando com seu amigo, ouvindo também a música ambiente que envolvia o local. Poucos minutos depois, os dois estavam cantarolando as músicas e rindo até um pouco alto, chamando a atenção das pessoas que estavam ao redor. Virgínia aproveitou o momento de alegria e descontração, aproximou-se de Luiz e rapidamente colou seus lábios nos dele, em seguida saiu correndo.
Ela somente parou de correr próximo de sua casa, Luiz estava logo atrás. Segurou-a pela cintura e virou-a de frente para si, os dois ficaram com seus corpos colados e Luiz num rompante beijou-a ardentemente.

Mais um dia se passou, outra noite chegou, e Virgínia sonhou outra vez com Fátima.
Chegou o dia da aula e uma ansiedade desconfortável tomava conta da linda moça. Ela convidou inclusive Luiz para participar da aula, mas ele não se interessou. Apenas se propôs a buscá-la no término da aula.

A aula começou, mas se sentia estranha, estava dispersa e não conseguia se concentrar nos passos, se perdia no compasso. A professora, percebendo, reagiu de uma forma natural conversando sorridente com a jovem. Para descontrair chamou João para dançar com ela e também dançou junto corrigindo os passos da moça. A moça começou a suar frio, pois sabia que estava dançando com João, namorado de Fátima, bem na sua frente, e ela atrás. Estava sentindo o calor de suas mãos, tocando sua cintura e suas costas, e no fundo estava gostando.
Aos poucos a linda moça foi se tranqüilizando e entrando no ritmo. Desta forma Fátima foi revezando os pares. Virgínia começou a se divertir dançando com outras pessoas. Em alguns momentos lembrou de Luiz que poderia estar ali se divertindo ao lado dela.

A aula estava terminando, e como combinado entre todos os participantes, sempre a última dança seria algum hit de sucesso do momento.

A professora pediu que todos fechassem os olhos e assim procurassem cuidadosamente seus pares misteriosos, e durante a dança permanecessem de olhos fechados. Em minutos o som começou a tocar, quem cantava era Norah Jones – Those Sweet Words.

Virgínia percebeu que sua ansiedade foi diminuindo, com a certeza de saber que estava dançando com Fátima. De olhos fechados sentia-se fora do ambiente em que estava e deixava sua imaginação solta. Sentia o perfume de sua parceira, e a segurança que era conduzida na dança. Parecia que seu sonho se tornava real. Começava dentro de si um turbilhão de emoções. De repente veio Luiz em seu pensamento. Abriu os olhos e disse:

- Isto é um erro! – e logo viu que realmente estava enganada. Na sua frente estava Eugênia, uma moça que aparentava sua idade. Fechou os olhos e desmaiou.

Quando acordou estava nos braços de Luiz. O rapaz carinhosamente narrou o acontecido e ela sem graça pediu desculpas para a professora:

-Fátima, esta noite dormi muito tarde! Desculpe o ocorrido, não queria atrapalhar sua aula. Você dança muito bem ao lado de seu marido. Preciso também me desculpar com Eugênia.

- Não precisa se desculpar, lindinha! Percebi que hoje chegou tensa. Mas precisa observar o que está ocorrendo contigo. Quem sabe seja o amor! – e olhou para o jovem que estava ao lado dela. Luiz e Virgínia trocaram olhares e sorriram.

- Outra coisa. Que história é essa de marido?! João é meu irmão! No momento estou solteira. – e deixou o casal a sós.

Passaram-se alguns dias e as últimas palavras que Fátima falara aumentaram mais a ansiedade da jovem dançarina. Ela não conseguia tirar a professora de sua cabeça.

Luiz como sempre muito amoroso e atencioso. Ficavam juntos na escola e todos os dias seguiam até a porta da casa de Virgínia. Seu namoro era morno, mas era assim que ela gostava. Ainda não se sentia preparada para uma entrega maior.

Chegou novamente o dia da aula da dança de salão. Quando Virgínia bate os olhos em Fátima, seu coração parece que sai pela boca. Nem percebe que Eugênia se aproxima e fica parada à sua frente.

- Oi! Você está melhor? – depois de perguntar, logo percebeu que ela estava distante e repetiu a pergunta.

- Sim! Claro! Vamos dançar? – e antes mesmo de aguardar a resposta, puxou a moça para dançar.

Eugênia era uma jovem muito simpática e tímida. Era um pouco mais velha que ela, mas não tão bonita. Já tinha experiência na arte da dança em vários estilos, entretanto se apaixonou pela dança de salão.

Poucos minutos depois só davam as duas dançando e sorrindo, deslizando pelo salão ao sabor da salsa. As duas movimentavam seus corpos de uma forma natural e bem sensual, uma mistura perfeita tipo bife com batatas-fritas, provocando os olhares de todos ao redor.

Fátima observa as duas com uma ponta de inveja, e ao mesmo tempo de orgulho. Percebe que seu irmão está ao seu lado, pega na sua mão, sussurra ao seu ouvido e puxa-o para dançar entre as duas.

Parecia que a festa estava completa para todos os gostos e olhos. Três lindos corpos suados, malhados se enlaçando no mesmo ritmo, transbordando energia e gerando êxtase no salão.
E assim foi mais uma aula.

Após um mês tudo estava maravilhoso na casa de Virgínia. Seus pais estavam contentes com seu estudo, com seu namoro e com sua dança.

Só um detalhe ainda incomodava a linda jovem. Sua professora de dança de salão não saia de sua cabeça e de seus sonhos.

Bem ou mal, o tempo acabou aproximando as duas, e acabaram sendo boas amigas. Quando terminava a aula sempre estendiam o horário, apenas conversando. Fátima fazia pipoca no micro-ondas que ficava numa salinha ao lado, uma micro-copa. Juntavam-se também alguns amigos de dança, inclusive Eugênia, mas ficava pouco tempo até aparecer uma moça que de costume sempre aparecia para buscá-la. Um belo dia, ela se abriu com a turma e disse que se apaixonou por uma mulher. De certa forma recebeu o silêncio como aprovação, ou desaprovação. Logo em seguida, voltaram a conversar sobre outros assuntos. Quando se despediu, Fátima fez questão de acompanhá-la, conversando em breves sussurros. No momento que Eugênia ia apresentar sua companheira, Virgínia sentiu um impulso maior e se aproximou das três.

Passou-se meia-hora, alguns amigos foram embora. Fátima estava tão entusiasmada que não parava de falar. Virgínia ouvia mais do que falava, e se encantava com o diálogo de tom cultural que as três mantinham. Cada vez que Eugênia fazia carícias nas mãos de sua companheira, acontecia um frisson entre Fátima e Virgínia.

- O papo está muito bom, mas Clara e eu temos que ir. – disse Eugênia se despedindo das duas.

- Então fico aqui com você, e espero fechar as coisas. – falou Virgínia com voz trêmula. Fátima se aproximou de Virgínia.

- Gostaria de ficar mais um pouco. Acho que perdi o sono. Você gostaria de me fazer companhia? Depois posso te deixar em casa.

- Preciso então ligar para o Luiz. Assim ele nem precisa vir me buscar. – falou, deu um sorriso e foi pegar o celular.

Dois minutos conversando com Luiz passou a ouvir uma música de fundo que parecia ser familiar, e pensou: Novamente Norah Jones. Desligou logo o celular e foi seguindo o som, percebendo que o salão estava no escuro. Sentiu uma mão que tocou em seu ombro. Virou-se e pode perceber à sua frente a bela silhueta de sua professora.

- Acho que algumas ações dizem mais que palavras. – disse Fátima se aproximando da jovem, e continuou: - Não tenha medo, apenas vou tocar no seu rosto. – falou em tom carinhoso.

Deixou suas mãos repousarem na sua face, contornando cada traço de seu rosto. Começando a tocar as largas sobrancelhas, descendo suavemente pelo nariz reto e delicado, escorregando rapidamente pelos seus lábios carnudos. Num gesto rápido e suave tocou as orelhas e lá permaneceu alguns segundos como se estivesse fazendo uma bela massagem em cada ponto das orelhas. Virgínia deu uma leve risada como se estivesse gostando. Fátima prosseguiu, se aproximando mais dela. Chegou sua boca próxima da orelha, tocando-a com seus lábios quentes de desejo, e em seguida, num impulso maior, deu uma mordidinha, fazendo Virgínia se arrepiar inteira, e como estavam muito próximas percebeu que ela estava nua. Seu coração começou a bater mais forte ainda. Não sabia o que fazer. Nem sabia se estava sonhando, ou se estava acordada.

- Fiz uma dança especial para você e esperei muito por este momento.

Durante dois minutos e meio, Virgínia sorria com os olhos ao ver Fátima dançando, com movimentos leves e sensuais, somente para ela. Parecia realmente um sonho maravilhoso, só que agora era real. Olhava aquela mulher com olhos de paixão, sem saber como agir.

Quando a dança terminou Fátima ficou parada e Virgínia foi ao seu encontro. Suas bocas se acharam, seus corpos se encaixaram.

Passou-se duas horas e as duas almas completamente nuas ainda rolavam por todos os cantos daquele espaço. Parecia que o lugar era muito pequeno diante da forte paixão.

A música parou de tocar e outro tipo de som invadiu o lugar. Gemidos, risos, movimentos formavam um novo ritmo. Somente terminou quando chegou ao total esgotamento dos sentidos. No ar o aroma do sexo. E nos dois corpos ficou gravado o derradeiro prazer, o gozo.

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

(Ouvir Estrelas - Olavo Bilac)

Fátima encontrou apenas este poema para tentar expressar o que estava sentindo.

- Você é linda! Foi incrível! Nunca senti nada assim por... – fez uma pausa olhando seriamente nos olhos de Virgínia e continuou – Nunca tive qualquer experiência com mulher.

- Para mim também é tudo novo! Meu primeiro namorado é o Luiz e só ficou nos beijinhos e alguns amassos. – ela fez pausa em suas palavras ao ouvir o celular tocar. Pensou que fosse Luiz e resolveu não atender.

As duas continuaram deitadas e abraçadas no pequeno sofá vermelho que ficava num cantinho do salão. Estavam envolvidas num clima de romance, e conversavam descontraídas entre trocas de beijos ardentes, que nem repararam que o tempo passava.

Depois de duas horas, o celular voltou a tocar. Desta vez, ela resolveu atender e eram seus pais falando que estavam preocupados e o tom da voz trazia uma certa aflição.

Aos poucos a expressão na face da moça foi se transformando. Ela não acreditava no que estava ouvindo. Desligou o celular e com os olhos em lágrimas tentou explicar a notícia que acabava de receber.

Fátima percebendo seu aparente nervosismo envolveu a triste moça em seus braços, que sentindo o amparo, começou a explicar o que estava ocorrendo.
Poucos minutos depois, as duas estavam saindo de lá às pressas se dirigindo ao hospital. Fátima fez questão de acompanhá-la.

Quando chegaram, ficaram sabendo que Luiz estava entre a vida e a morte.

Virgínia começou a chorar. Seus sentimentos estavam confusos. De alguma forma achava que tinha culpa no acidente.

Conversou com a família do rapaz, que foram explicando aos poucos o acontecido. Tiveram até uma certa cautela, pois ela estava mais nervosa que eles.

Pouco tempo depois seus pais voltaram a ligar no celular. E a menina voltou a chorar. Fátima permaneceu ao seu lado, sendo companheira solidária.

Aquele resto da noite foi marcado por momentos muito tristes...

Os momentos alegres sempre são bem relembrados. Agora, os momentos tristes, tentamos apagar de nossa mente.

E este final de noite, realmente ela quis apagar de sua mente, e apagou mesmo. Inclusive a culpa que sua mente carregava.

E assim Virgínia, agora se encontra com seus trinta e seis anos, casada, filhos, lar para cuidar, professora de música de uma escola particular, tendo uma vida bem agitada, dentro da normalidade dos centros urbanos brasileiros.

É fim de verão no Rio de Janeiro, aquele calor intenso de final de tarde. No meio do trânsito ela está dirigindo seu carro pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana na altura da Rua Almirante Gonçalves e pára no semáforo vermelho.

Sem querer, repara numa mulher que está atravessando a faixa de pedestre, e parece que foi ontem a última vez que viu Fátima. Com certeza o tempo só beneficiou aquela mulher, estava mais bonita e atraente.

Quando percebe está buzinando e sinalizando, chamando a atenção de Fátima. Encosta o carro na guia, aguarda ela se aproximar e sai do carro.

- Quanto tempo... – diz Fátima, timidamente.

- Realmente faz muito tempo – responde Virgínia prontamente, sentindo seu rosto corado por ter feito um pouco de barulho no meio da rua.

As duas permanecem em silêncio por alguns instantes.

- Entre no carro, posso te dar uma carona? – Virgínia faz o convite.

Fátima aceita e seguem as duas conversando durante o trânsito. Trocam novidades, que de fato são muitas, e também números de celulares.

Trinta minutos depois se despedem e Virgínia a deixa num ponto qualquer da cidade maravilhosa.

Parece que o tempo voltou para trás, e uma brisa saudosa motivou um brilho no seu olhar.
Dias se passam e percebe que o tempo não pode apagar o que estava ainda vivo em seu coração. Desde que reencontrou Fátima suas noites não foram mais as mesmas, e simplesmente voltou a sonhar com aquela encantadora mulher.

Conversaram por tão pouco tempo que nem teve coragem de comentar sobre Luiz. Afinal era tão recente sua morte que ainda não conseguia falar naturalmente sobre isso. E sua mente volta há tempos atrás, quando Luiz ficou de coma por sete dias, devido àquele acidente de bicicleta. Lembra bem que durante este tempo se dedicou exclusivamente ao namorado, ficando dia inteiro no hospital, acreditando no seu pronto restabelecimento. E Fátima, sempre ligando para ela e apenas respondia poucas palavras. Lembra também que no dia seguinte, quando Luiz recebeu alta, Fátima estava esperando-a em frente de sua casa. Ficou pensativa e resolveu entrar no carro.

- Saudades... – disse Fátima ao abraçá-la.

- Precisamos conversar. Foi tudo muito rápido. Nestes últimos dias minha vida virou de cabeça para baixo. Não tive tempo quase de respirar. Pensei muito em você, em tudo que aconteceu. Você foi e é uma pessoa muito importante na minha vida, mas este nosso romance não tem futuro... Fátima interrompeu:

- Entendo, mas não precisa se sentir culpada com o que aconteceu... – em seguida também foi interrompida.

- Pode ser que eu seja culpada, mas preciso te dizer que amo Luiz, e me senti muito mal durante todos estes dias. E o que é certo, é certo. Ele é meu namorado, e você minha amiga. Achei um erro termos avançado o sinal daquela forma. Mas não a culpo. Prefiro que fiquemos assim. Você segue sua vida normal, e eu vou cuidar da minha. Ainda somos muito novas, muita coisa pode acontecer. Mas no momento quero viver ao lado de Luiz.

Fátima, com os olhos embargados de lágrimas, busca um ponto fixo nos olhos de Virgínia, respira fundo e resolve falar.

- Para mim vai ser impossível tocar uma vida normal depois do que aconteceu entre nós. Ser sua amiga, talvez seja muito difícil. Estar perto e não poder te tocar, será um grande sacrifício que não saberei suportar. Sinceramente, não imaginei que tudo fosse terminar assim, mas quero ver você feliz.

Depois destas palavras, lembrou que Fátima destravou a porta do carro e pediu que ela saísse. Foi a última vez que ouviu sua voz, até reencontrá-la novamente.

Pega o cartão que recebeu de Fátima com seu número de telefone e fica pensativa, lembra do que ela disse sobre ainda estar solteira.

Fica a pensar sobre sua vida, todos os anos que viveu ao lado de Luiz. Quantos momentos importantes tiveram juntos, quantas memórias boas ficaram guardadas no seu coração. Pensa nos seus filhos, um lindo casal, um com doze e a outra com dez. Sempre dedicada, se desdobrou para dar o melhor para eles. Até recentemente tiveram uma vida estável e confortável. Pensa que, de fato seria a vida que qualquer mulher gostaria de ter.

Mas Fátima balançou sua estrutura novamente. Sabe que já não era tão nova como antes. Vai para seu quarto relaxar e deita na cama, aproveita o momento, enquanto as crianças estão na rua. Pega o controle remoto e liga o som do rádio. Fátima, mais uma vez, passa na lembrança de sua mente, e ela fita o cartão na indecisão do que fazer.

Ainda lembra de outras palavras que foram ditas, sobre estar aguardando a sua ligação; sobre quando estivesse certa que deveria ligar.

No mesmo momento passa a ouvir uma velha canção, que faz seu coração acelerar. Então, sem hesitar, pega o celular e decide ligar para Fátima.

FIM.

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